sábado, 12 de maio de 2012

A visão da amendoeira

Lindo texto, principalmente porque descobri que Jeremias também era um pesquisador e historiador além de profeta. 

A visão da amendoeira

"Ainda veio a mim a Palavra do Senhor, dizendo: Que é que vês Jeremias? E eu disse: Vejo uma amendoeira. E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha Palavra para a cumprir" (Jeremias 1:11,12).

Porque Deus mostrou uma amendoeira a Jeremias? Qual o significado da visão?

A amendoeira é considerada a "despertadora" no pensamento hebraico, visto que de todas as árvores ela é a que floresce mais cedo, muito atenta a oportunidade de florir. As amendoeiras também têem grande capacidade de regeneração não necessitando de podas. A cada ano elas morrem e renascem esplêndidamente tornando-se completamente floridas.

Da mesma forma que a amendoeira se comporta, sendo atenta a capacidade de renascer, de florir, Deus se comporta para com o seu povo. Ele está atento, vigilante, de sentinela para no momento certo cumprir a sua Palavra. Ali onde parece não haver vida, tal qual a amendoeira tudo volta a florir com mais beleza ainda.

Retirado de http://www.atendanarocha.com/2008/03/viso-da-amendoeira.html


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Fala, amendoeira

Oi pessoal! Tem alguém aí ainda? risos! Eu sei que tem... todos os dias o número de visitas ainda é grande... a dona da casa aqui é que anda a mil por hora e nem tem tido tempo de tomar um café com as visitas tão importantes. Mas hoje, parei um minutinho para dividir com vocês uma mensagem linda, que me tocou muito. Bom, não vou estender minhas palavras porque se eu contar, ninguém vai acreditar mesmo... kkkk. Delicie você também com estas palavras tão lindas!

Fala, amendoeira
Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza – essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista deparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre céu e chão – névoa baixa e seca, hostil aos aviões. Pousou a vista, depois, nas árvores que algum remoto prefeito deu à rua, e que ainda ninguém se lembrou de arrancar, talvez porque haja outras destruições mais urgentes.  Estavam todas verdes, menos uma. Uma que, precisamente, lá está plantada em frente à porta, companheira mais chegada de um homem e sua vida, espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino.
Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, alguns fios elétricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. Às terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e, ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe pelo tronco. Nenhum desses incômodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes.
Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, numa gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom – cor final de decomposição, depois da qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador de seu azedinho. É como se o cronista, lhe perguntasse – Fala, amendoeira – por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:
-- Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.
-- E vais outoneando sozinha?
-- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.
-- Somos todos assim.
-- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
-- Não me entristeças.
-- Não, querido, sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-se com dignidade, meu velho.
(Carlos Drummond de Andrade)